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Gravidez na infância é mais perigosa para meninas negras do que para as brancas e as adultas

  • winnylimax9
  • há 7 dias
  • 3 min de leitura
Foto: Montagem com Unsplash
Foto: Montagem com Unsplash

Alice* passou meses “sentindo uma coisa mexendo na barriga.” O pai, que abusava dela, dizia que a levava ao hospital e sempre retornava com a mesma resposta: “Não tem nada errado.” Esse relato foi ouvido pela médica Marcela Sousa, especialista em ginecologia e obstetrícia e responsável pelo serviço de Pré-Natal de Alto Risco da Policlínica de Coari, cidade a 363 km de Manaus. 


Ela conheceu a história quando recebeu a menina de 13 anos, com oito meses de gravidez, apresentando sintomas graves de eclâmpsia. A criança foi estuprada pelo próprio pai, sofreu ameaças e, por medo, nunca revelou a gravidez, nem realizou o pré-natal. A ida ao hospital foi inevitável quando a adolescente apresentou convulsões, visão turva, dores abdominais, sinais mais severos da doença.


A médica relembra que ela chegou em estado gravíssimo, e a equipe agiu rápido, mas o pior aconteceu. Após 36 horas do parto, Alice morreu. “A paciente teve ruptura da cápsula hepática, insuficiência renal e acidente vascular cerebral hemorrágico, desfechos trágicos da eclâmpsia”, recorda.


Meninas negras, como Alice, são o grupo com maior número de gestações de 10 a 14 anos, segundo o Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (SINASC). De 2015 a 2023, 131.719 nascidos eram fruto de gestações de crianças e adolescentes negras nessa faixa etária. Entre as brancas, foram 31.082 nascimentos no mesmo período. Ou seja: em números totais, a gravidez entre crianças negras foi quatro vezes mais frequente. 


Quando comparamos a proporção de nascimentos nessa idade com o total de nascimentos dentro de cada raça, porém, a coisa muda de figura. A cada 10.000 mil crianças indígenas que tiveram nascidos vivos em 2023, 309 foram meninas de 10 a 14 anos. Entre as negras, foram 65 e, entre as brancas, 26.


Proporcionalmente, portanto, as meninas indígenas têm o maior número de gestações dos 10 aos 14 anos. A Gênero e Número se aprofundará nas questões relacionadas a elas em uma reportagem separada, a ser publicada em agosto.


Antes dos 14 anos, vale lembrar, toda gestação é fruto de estupro de vulnerável, o que dava à menina direito ao aborto legal. Como Alice* só teve a gestação descoberta ao chegar em estado de urgência, ela não teve acesso ao direito. 


A gravidez em crianças e adolescentes muito jovens representa um elevado risco de morte materna. A ovulação, que pode ocorrer em uma menina de 10 a 14 anos, não indica que seu corpo está preparado para gestar, alerta o médico Olímpio Moraes, pesquisador e gestor do Centro Integrado Amaury de Medeiros (Cisam), em Recife, Pernambuco. 

Estima-se que meninas tenham um risco 38% maior de mortalidade materna”, afirma o médico com base em estimativa da Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo).

“O corpo delas ainda está em formação, por isso, há vários riscos associados à gravidez, como maior probabilidade de parto prematuro, aumento da incidência de pré-eclâmpsia e outras síndromes hipertensivas e risco de hemorragias pós-parto.”


As meninas negras também são as maiores vítimas de mortalidade materna. De 2015 a 2023, segundo dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde, 111 crianças e adolescentes de 10 a 14 anos de todas as raças morreram durante a gestação, o parto ou o puerpério. Dessas, 79 eram negras, ou seja, 71%. Dezoito eram brancas (16%), sete eram indígenas (6%) e uma era amarela (1%). As demais meninas não tiveram a raça notificada.



 
 
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